Mesmo sabendo que está no foco de uma questão que será amplamente debatida no seio da sociedade esportiva do RN, o presidente da Federeção Norte-Riograndense de Futebol (FNF), José Vanildo, traz para o centro das dicussões sobre a realização da Copa do Mundo em Natal um projeto que havia sido engavetado pelo ex-presidente da casa do futebol, Nilson Gomes: a permuta do terreno do Juvenal Lamartine pela construção de uma arena moderna em outro ponto da capital potiguar. O dirigente diz que neste momento se faz necessário se buscar o ponto de equilíbrio entre a emoção e a razão para definir com sobriedade aquilo que será melhor para cidade. Ele acredita que o momento é propício para tratar do assunto e que os governos municipal e estadual estão diante de uma oportunidade ímpar de dotar Natal de um estádio alternativo sem evolver recursos públicos.
Presidente, chegou o momento de desengavetar o projeto de permuta do terreno do JL, visando a construção de um novo estádio para Natal?
A Federação não pode ficar só no aguardo, no desejo, e de uma vontade que existiu no governo passado e que não foi cumprida, nós estamos avançando em outras alternativas e avaliando essa hipótese de permuta do JL com outro imóvel na cidade, vinculando essa troca a construção de um novo estádio que atenda as necessidades de todos os nossos filiados.
Em que pé se encontra essa questão?
Isso vai depender de uma audiência que eu terei com a governadora Rosalba Ciarlini e também com o secretário da Secopa Demétrio Torres, com quem já mantive uma conversa preliminar para definir alguns pontos relativos à Copa do Mundo, onde iniciamos uma conversa sobre o futuro do Juvenal Lamartine. Iniciamos a discussão se seria melhor reformar o estádio com recursos próprios ou envolver a área numa espécie de permuta envolvendo Governo, Prefeitura do Natal e Federação de Futebol no sentido de construir um equipamento moderno em outra área.
Como está a situação daquela área?
O imóvel é do Governo do Estado, nós (FNF) estamos lá há quase cem anos, todos os investimentos são próprios, mas dependeria da votação de um projeto de lei devolvendo a propriedade para federação de futebol, para que pudéssemos tocar o processo de permuta. Entendo que isso é possível desde que fique explicada, com clareza, a real possibilidade de utilização. Da parte da FNF o interesse é que o patrimônio do qual cuida há quase um século como instrumento de desenvolvimento do esporte, sirva para evoluir uma situação de tanta dificuldade que o futebol atravessa depois que foi anunciada a demolição do estádio Machadão para construção da Arena das Dunas.
Essa alternativa vai ser apresentada aos representantes do LOC na visita que eles vão fazer a Natal no dia 14 de março?
Essa hipótese dependerá do secretário da Secopa, Demétrio Torres, e da própria Prefeitura de Natal que são parceiras neste evento. O Patrimônio existe, é possível se realizar o projeto de revitalização do Juvenal Lamartine e temos essa alternativa de avançar na negociação de permuta da área para construção de um estádio perfeitamente adaptado as necessidades modernas. Mas como disse, isso vai depender de conversas com as autoridades constituídas que fazem parte desse processo.
O projeto de reforma do JL não teria o mesmo gasto para a construção de um novo estádio?
As remodelações são sempre difíceis, tecnicamente muitas vezes o investimento a ser realizado não compensa também, isso eu reconheço. Há uma preocupação natural da FNF com respeito à história, a tradição do velho estádio, porém, não podemos viver numa área tão nobre sem que aquele estádio tenha uma utilização nobre, que seria a realização de partidas de futebol da categoria de profissionais. Ainda com essa limitação, eu posso afirmar que o JL continua sendo o estádio mais utilizado de Natal contemplando campeonatos de todas as categorias exceto a profissional e servindo também para abrigar jogos de campeonatos amadores da cidade.
A posição pessoal do presidente da Federação de Futebol neste caso, qual é?
Quando a parte administrativa da FNF deixou o Juvenal Lamartine e foi para outra área, isso ocorreu por motivos das condições precárias do local. Francamente acredito que com um investimento sério, o estádio possa ser reaproveitado por estar situado numa área com avenidas largas, que poderiam ser utilizadas como estacionamento. O estádio seria utilizado em dias não úteis ou à noite, quando o trânsito no local é bastante reduzido. Ele pode sim ganhar uma sobrevida, mas isso não significa dizer que devemos descartar essa possibilidade de permuta.
Seria uma questão simples de se resolver? Daria tempo de o processo ser concluído até a Copa de 2014?
Trata-se de uma questão complexa, não é simples se debater sobre o assunto. O JL está encravado numa das áreas mais nobres da cidade e, portanto, muito cobiçada pelo mercado imobiliário, isso gera uma série de especulações. A mim o valor não interessa, estou mais preocupado de que no fim o processo atenda os interesses de todos os membros envolvidos neste grande processo. Se a adequação for a melhor alternativa, levando em consideração a história do estádio, que ela seja feita, mas não implica dizer que uma Parceria Público-Privada visando a permuta do terreno por um novo estádio tenha de ser desconsiderada.
Se o senhor tivesse poder de definição, o que escolheria neste caso?
Meu sentimento pessoal, que não é o do presidente da FNF mas sim de quem começou a assistir jogos no JL levado por meus pais e meus irmãos, não poderia deixar de ser de carinho pelo estádio, que reflete muito sobre minha infância, sobre a minha juventude de um modo geral. Dói pensar na possibilidade de que isso pode vir abaixo algum dia, mas este é o meu pensamento pessoal, que reflete um sentimento. Porém, eu não delibero sozinho e tenho de ouvir todos os segmentos e sou obrigado a aceitar aquilo que se entende ser a melhor alternativa para o momento. Temos de levar em conta as dificuldades da FNF, dos nossos clubes; a Copa do Mundo que se avizinha. Então reconheço que chegou o momento de esquecermos a emoção em busca de um ponto de equilíbrio entre a emoção e a razão.
Como o senhor avalia a situação de uma forma geral?
A Copa do Mundo deve ser estimulada, discutida e é por isso que eu brigo muito para os desportistas serem escutados. Essa falta de atenção dispensada pelas autoridades, confesso, tem me magoado bastante. Espero que a nova governadora compreenda a importância do futebol como fonte geradora de emprego para o RN, nós somos um excelente empreendimento, levando em consideração que o futebol é o maior negócio do mundo. Espero que haja reflexão e que se encontre uma solução para o nosso problema.
Como os governos de Estados pobres podem ajudar o futebol?
Discutiu-se muito a doação de um terreno ao América, considero essa uma reivindicação corretíssima do presidente do clube, mesmo que compreenda que a doação de uma área em favor de um clube isolado não nos pareça muito justo. Qualquer que seja a decisão neste sentido, em minha concepção, tem de levar em consideração a questão do Juvenal Lamartine e da FNF, pois além de atender as necessidades do América, atenderá também as de todos os filiados, dos amadores e contempla a sociedade. Acho que a FNF deve ser o elo de ligação entre todos esses atores.
Esse projeto de permuta do JL também poderia ser considerado um marco no legado da Copa do Mundo para o RN?
Eu não tenho dúvida que havendo a compatibilização dos interesses da FNF, Governo do Estado, Prefeitura do Natal e dos nossos filiados se poderia, neste momento de grande dificuldade, dotar Natal com a maior obra conjunta da esfera municipal e estadual este ano. Isso sem gastar um centavo sequer de recursos públicos, tirando proveito apenas daquilo que já temos à disposição.
Fonte: Entrevista concedida ao jornalista Vicente Estevam da Tribuna do Norte