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Segunda, 18 de Outubro de 2010 às 00h00 Entrevista de José Vanildo ao Portal nominuto.com

José Vanildo: “fomos ouvidos por autoridades sem competência”

Presidente da FNF fala sobre situação do futebol no Rio Grande do Norte e as questões políticas da realização da Copa do Mundo.

Por Artur Dantas

Falta de apoio do Governo e Prefeitura e falta de representação nos diálogos envolvendo a Federação Norte-riograndense de Futebol nos assuntos envolvendo a Copa do Mundo de 20104 são alguns dos problemas enfrentados por José Vanildo e pelo futebol do Rio Grande do Norte, nos últimos dois anos. Na entrevista ao porta Nominuto.com, o presidente da FNF explica como é a relação com os gestores municipais e estaduais, CBF e FIFA, e com outros estados sobre o Campeonato do Nordeste.

Nominuto.com – Como andam as conversas para a efetivação do Campeonato do Nordeste de 2010?

José Vanildo - Na terça-feira (19), vamos começar a discutir o Campeonato do Nordeste 2011 com uma minuta de proposta de regulamento, visualizando a realização da competição. Entendemos que é possível fazer uma adequação de datas sem penalizar os clubes que não participam e favorecendo aos que estão no Campeonato do Nordeste com uma disputa mais adequada e aperfeiçoada. Acho que é possível realizar com antecipação o campeonato.


Nominuto – A competição Copa do Nordeste já foi muito forte e teve o América como campeão. O campeonato já teve uma expressão maior e hoje está encolhido. Na sua opinião, o que aconteceu com a disputa? É apenas um problema de datas?

José Vanildo – Não. O Campeonato do Nordeste se realizou em 2010 muito mais por decisão judicial e muito menos por uma vontade da CBF. A Liga do Nordeste teria que promover a competição, mas teve obstáculos como a Copa do Mundo e também problema com datas. Mas isso é discutível. Para se ter uma ideia, o título mais importante do América foi a conquista da Copa do Nordeste em 1998. Hoje, o Campeonato cumpriu uma missão apesar das deficiências. O futebol de João Pessoa tinha acabado, o futebol de Alagoas estava decadente. Em Sergipe não havia mais quase futebol. Até em estados como o Rio Grande do Norte, com ABC e América, foram premiados com um calendário adequado, principalmente ao ABC, que se utilizou com muita eficiência desse período. Eu acho que ano que vem, sem confrontar os campeonatos, é possível aperfeiçoar. O Campeonato do Nordeste ainda é um grande negócio.

NM- Muito se falou no início do ano sobre a demolição do Machadão. Levando em consideração que ele será meso demolido, o que será do nosso futebol? Qual a alternativa que teremos de estádios aqui? A imprensa nacional comenta que não há como sustentar o Arena das Dunas apenas com o futebol.

JV – O futebol sozinho não conseguirá manter o Arena das Dunas, assim como o Maracanã, Engenhão e o estádio do Barcelona não conseguem. Nenhum estádio consegue se manter sem que estejam agregados um conjunto de equipamentos. Nenhum estádio sozinho sobrevive. Isso é coisa do passado. O futebol hoje agrega em torno do evento um conjunto de outras ações. Por exemplo, o estádio Machadão não foi feito para ser outra coisa que não campo de futebol. Não comporta outra situação que não o futebol. A Secretaria de Esporte (SEEL) funciona em condições não ideiais porque não há adequação física para outros aproveitamentos. O novo estádio terá que servir até mesmo para o futebol. Agora, sobre o que será do nosso futebol quando o Machadão for demolido será uma surpresa. O que me surpreende é Governo vai garantir a legalização da obra pela empresa privada, mas não há audiência com quem faz o futebol. A Federação Norte-riograndense de Futebol não é ouvida. Mesmo assim, nós estivemos com o governador Iberê Ferreira de Souza que nos garantiu a possibilidade de R$ 3 milhões para uma renovação do Juvenal Lamartine. Outra alternativa para o nosso futebol veio através da Prefeitura de Goianinha que conversou conosco para sediar jogos de público intermediário de América e Alecrim. Em Natal, os grandes jogos poderão ser no estádio do ABC. Essas providências imediatas vão suprir a princípio, mesmo que não se tenha certeza qual a data e época que o Machadão será definitivamente demolido. Isso é algo que nos deixa em dúvida de começar a discutir o Campeonato do Nordeste na terça-feira (19) sem convicção de onde serão realizados ou se teremos a possibilidade de usar o Machadão.


NM – Há algum tempo o senhor reclama da falta de participação da FNF nas decisões do Estado e Município. Essa realidade ainda continua?

JV - Olhe, evolui muito mais pelo atrevimento da Federação e muito menos pelo desejo dos poderes públicos. Tivemos apoio da imprensa que repercutiu nossas preocupações e fomos algumas vezes ouvidos por autoridades que na maioria das vezes não têm competência de solucionar os problemas. Salvo a decisão do governador Iberê em relação ao estádio Juvenal Lamartine. Em relação a Copa do Mundo, não fomos ouvidos em nada. Uma coisa temos certeza. No período que o no período da demolição, o futebol terá que se subsidiado por alguém como acontece com qualquer atividade que gere emprego e renda. No espaço de 2011 a 2014 o poder público ou empreendimento privado terá que subsidiar os eventos como forma de garantir a sobrevivência do esporte. É ideal também que sejam oferecidas condições da FNF utilizar esse novo estádio para jogos. Se não houver uma parceria entre o empreendedor e a Federação, não vamos marcar jogos pelo estádio novo. Quem deverá jogar lá será o Liverpool ou algum outro time de fora. É preciso saber qual a condição de uso, os custos, o gerenciamento, se a Federação vai poder participar da operação e utilização do estádio. Para isso, nós vamos utilizar todos os instrumentos de pressão, até mesmo em última hipótese os caminhos judiciais para buscar e garantir a sobrevivência do futebol potiguar antes ou depois da Copa do Mundo.


NM -Por que o senhor acha que a Federação ainda esbarra nesses problemas com os poderes públicos?

JV – Porque há uma cultura de que o futebol é feito por picaretas, pilantras e malfeitores. O que estão dizendo hoje é que é a Copa do Construção Civil. E esse fato é utilizado como forma de barrar e não ouvir a sociedade, que é o principal cliente. E essa cultura acabou. O futebol mudou. Atualmente, o empreendimento Copa do Mundo tem que ser visto não só como o futebol da terra, mas o conjunto de coisas que precisam sobreviver pós-copa. E como é que nós vamos sobreviver pós-copa? Como vamos garantir os empregos dos jornalistas, radialistas, televisões, o dono do bar, o pipoqueiro, o jogador, o médico, massagista? Essa parceria tem que existir. Se não existir uma parceria efetiva entre quem faz e a Federação, a Copa vai gerar grandes desgostos ou invés de bons frutos. Tem que haver o reconhecimento dos grandes empreendedores ou vamos ter grandes obstáculos.


NM- O senhor falou sobre a participação do Governo para a renovação do Juvenal Lamartine. Mas qual é, de fato, interação do Governo e Prefeitura com a FNF.

JV – Até a agora a FNF não recebeu nada dos dois. Nem uma alfinete. Nós temos tido muitas promessas. O que existe na verdade é uma intenção pública do governador Iberê em atender esse reclame. Costumo acreditar nos homens e espero que isso se configure pelo momento político que estamos atravessando. Esperamos que isso seja uma realidade com a nova governadora, Rosalba Ciarlini, que foi sem dúvida uma grande benemérita do esporte quando prefeita de Mossoró. Que as coisas se clareiem com mais nitidez nos outros detalhes. Acho que nas mudanças as entidades esportivas têm que ser ouvidas. Quando se vai fazer uma obra o pessoal da construção civil está em cima. Quando se dá uma caiada em um hotel da Via Costeira, a Secretaria de Turismo contrata um avião, vai para a Europa. E isso não está errado. Vai para trazer o turista para gerar emprego e renda no empreendimento privado. Não é feio o governo investir em um estádio de futebol. É um grande negócio como se faz no turismo. O que não pode se permitir é que a construção civil abocanhe isso, afastando realmente quem é o objeto do empreendimento que é o futebol. Infelizmente não vemos uma ação concreta nem da CBF e da FIFA, mesmo que seja um projeto FIFA. Mas eles não respeitam essas decisões. As federações não são ouvidas em nada apesar de eu ser diretor eleito da CBF, representante do Nordeste no conselho consultivo. Para mim, pensei que isso fosse alguma coisa, mas não vale nada. Ou quase nada.


NM – Como é a relação de José Vanildo e a CBF?


JV - Eu tenho uma posição crítica em relação a CBF. Ela realizou muito em nível de futebol mundial, profissionalizou o futebol no Brasil, no entanto a Confederação jogou os campeonatos estaduais e as federações para um canto de lixo, para um pé de escada, impondo um calendário coercitivo, antieconômico, improdutivo e reduzindo a cada dia a capacidade de rebeldia das federações. E diria como o poeta “quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Tenho uma visão que reconhece os avanços, mas tenho uma crítica por esse ângulo e não tenho o menor medo de me posicionar neste sentido porque eu defendo a frase como a do projeto Tiririca “pior que tá, não fica”. Eu tenho sim é que gritar pelo Campeonato do Nordeste, pelos interesses do futebol do RN porque a CBF e a FIFA não ajudam em nada a desenvolver o futebol. A CBF é muito mais um braço econômico de um grande empreendimento comercial que restringe naturalmente a capacidade de, ao menos, se rebelar. A CBF compreende que em um certo momento as federações serão convocados a se posicionar. Eu acho que se esperar esse “certo momento” será tarde demais. Entendo que nós temos que nos posicionar agora pensando “como serão os campeonatos nos estados se não houver um estádio compatível”. Claro que se o América for jogar em Goianinha ou em outro estádio, em outra cidade ou praça, terá prejuízos. Se for jogar em campo privado os custos serão maiores ainda. Tem que haver a consciência que os clubes e federações têm que ser ouvidos.

NM – Como senhor avalia a Série B do Campeonato Estadual?

JV – A Série B do Estadual é um exemplo clássico da falta de apoio do poder público. É como se futebol fosse algo feio do poder público investir. Ele divulga a cidade. Ninguém divulga mais a cidade quanto o futebol. Ninguém divulga mais o Rio Grande do Norte do que ABC e América. Imagine que para um clube do interior participar da competição é necessário ter um estádio com um mínimo de condições ao torcedor. Não encontramos isso em Luiz Gomes, em Santo Antônio, Parnamirim, Macaíba, Macau. E isso não é permitido por lei. Como se poderia admitir um clube participar de um evento que ascende a primeira divisão e não ter nem ao menos um estádio para competir? Seria trazer para dentro de uma competição que já vai ser realizada com dificuldade, como é o caso da primeira divisão, e ainda vem outro clube pedinte sem condição de participar. Isso fez com quem reduzíssemos para apenas três equipes, mais a participação de ABC e América com um time B. Acho que eles estão dando uma motivação técnica e midiática por meio de uma boa divulgação, dando chance para que os atletas possam manter a forma e dando chance aos novos talentos.


NM - A participação de ABC e América B é legal? Cabe alguma contestação judicial?

JV - Isso é praticado no Rio da de Janeiro, São Paulo, Minas. Existe o Cruzeiro e Palmeiras B. Eles participam da primeira e segunda divisão como convidados e não ascendem a primeira divisão porque já estão garantidos. Pelo contrário. Eles não só dão brilho, como favorecem os municípios onde vão jogar, como é o caso aqui de ABC e América. Acho que isso é uma grande jogada porque vamos ter jogos aqui em dias que não serão realizadas partidas. Acho que a maioria das pessoas tem aplaudido essa iniciativa.

NM - Há pouco tempo, antes da competição antes da realização do Campeonato do Nordeste, alguns estados manifestaram o desinteresse em participar do evento. Mais recente, houve uma reclamação por parte de Pernambuco. Como anda a relação do Campeonato do Nordeste com o clubes da região? A disputa fica rachada sem os clubes que estavam originalmente na competição?


JV - A questão á seguinte, vou viajar para uma reunião com a presidente da federação de João Pessoa para conversar. Antes disso já conversamos com Ceará, Alagoas, Sergipe e o presidente da Liga do Nordeste, Eduardo Rocha, conversará com os baianos para definir a participação normal da Bahia. O que está havendo em relação a Pernambuco é que o estado depende muito mais da deliberação do que dos clubes. O presidente de lá tem se posicionado dizendo que é preciso salvaguardar o campeonato deles. Eu também concordo, mas é possível fazer uma adequação de datas. Mas esse é o estilo de Carlos Alberto, superado, atrasado. E esse fato penaliza mortalmente os outros estados. Com a participação da Bahia, que não esteve nesse ano, seria muito importante a participação do Sport também. Mas é a história: não se dispôs, não vai participar, salvo outra negociação. Eu acho que é muito mais uma ação do presidente de lá, que tem uma posição atrasada. Entendo que o Campeonato do Nordeste é um grande negócio e ele pode ser disputado paralelamente. O campeonato pernambucano leva um milhão de espectadores, mas 75% são beneficiados com o programa “Tô com a nota”. Aquela lotação que se vê nos estádios é uma meia verdade. Nós poderíamos ter isso se houvesse uma relação política mais forte. O campeonato pernambucano que o presidente Carlos Alberto fala é o mais chapa branca do Brasil. Ser contra o Campeonato do Nordeste é ser contra o futebol do Nordeste. É querer enterrar definitivamente porque os clubes de Pernambuco estão mortos. O Náutico está decadente, Santa Cruz fora de série e o Sport tentando sobreviver. Os clubes que mais devem no Nordeste estão lá. Claro que o Campeonato do Nordeste vai além do apoio financeiro, qualifica os clubes e possibilita a sobrevivência dos clubes do Nordeste.


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